quarta-feira, 31 de agosto de 2011

RETORNO À INOCÊNCIA


O PODER DA VISÃO


Conto de H G Wells: Em Terra de Cego



Pequena biografia:

O escritor inglês Herbert George Wells (1866-1946) foi um pioneiro da ficção científica. Escreveu " A Máquina do Tempo", "A Ilha do Dr. Moreau", "O Homem Invisível","A Guerra dos Mundos", "Kipps", "A História de Mr Polly", "O Esboço de História", "O Trabalho, Riqueza e Felicidade Humana ", "Guerra Aérea".

E este Conto "Em Terra de Cego" que tu vais ler agora...
A trezentas milhas ou mais do Chimborazo, e a cem milhas das neves do Cotopaxi, nas regiões mais selvagens dos Andes equatoriais, ali fica esse misterioso vale entre as montanhas, separado do mundo dos seres humanos, a Terra dos Cegos. Há muitos anos esse vale estava tão aberto ao mundo, de modo que os seres humanos podiam ali chegar afinal, através de medonhos desfiladeiros e por sobre um passo gelado, dentro de suas pradarias amenas; e lá realmente chegaram seres humanos, uma família ou pouco mais de mestiços peruanos, fugindo da cobiça e da tirania de um malvado governante espanhol. Então houve a estupenda erupção do Mindobamba, quando a noite durou dezessete dias em Quito, a água ficou fervendo em Yaguachi e todos os peixes mortos chegavam flutuando até mesmo a Guaiaquil; por toda parte, ao longo das encostas do Pacífico, houve deslizamentos de terra, rápidos degelos e inundações súbitas, e todo um lado da velha crista do Arauca se desprendeu e veio abaixo em meio a um ruído como trovões, e a erupção separou para sempre a Terra dos Cegos dos passos exploradores dos seres humanos. Mas aconteceu de um desses colonizadores iniciais estar do lado de cá dos desfiladeiros quando o mundo tremeu tão terrivelmente, e por força ele teve de esquecer sua mulher e filho, todos os amigos e posses que tinha deixado lá em cima, e teve de começar de novo no mundo mais abaixo. Ele começou de novo, mas a cegueira o afetou, e ele morreu dos castigos nas minas; mas a história que contou fez nascer uma lenda que paira ao longo de todas as cordilheiras dos Andes até hoje.
Ele falou da sua razão para se aventurar naquele lugar protegido, em que ele tinha sido inicialmente levado amarrado a uma lhama, junto a uma vasta carga de instrumentos, quando era criança. O vale, disse ele, tinha tudo que o coração humano podia desejar - água doce, pastos, clima ameno, encostas de rico solo marrom com manchas de um arbusto que dava um fruto excelente, e de um lado grandes florestas pendentes de pinheiros que seguravam as avalanches. Longe, bem longe, de três lados, imensas cavernas de rocha verde-acinzentada eram revestidas de paredes de gelo; mas a geleira não vinha na direção dos habitantes, porém fluía para longe através das encostas mais afastadas, e só de vez em quando grandes massas de gelo caíam do lado do vale. Nesse vale nem chovia, nem nevava, mas as fontes abundantes proporcionavam uma rica pastagem verde, ue a irrigação espalhava por todo o espaço do vale.Os colonizadores haviam feito um bom trabalho naquele lugar. Seus animais viviam bem e se multiplicaram, e havia uma só coisa que toldava a sua felicidade. E no entanto, bastava para toldá-la sobremaneira. Uma estranha doença os atingiu, fazendo que não só todas as crianças nascidas ali - e, na verdade, várias crianças mais velhas também - fossem atacadas pela cegueira. Foi para buscar algum encantamento ou antídoto contra essa praga da cegueira que ele tinha,com grande esforço, periigo e dificuldade, voltado atrás pelo desfiladeiro. Naqueles dias, nesses casos, os seres humanos não pensavam em germes e infecções, mas em pecados; e parece para ele que a razão dessa aflição devia residir na negligência desses imigrantes sem sacerdotes, que deixaram de erguer um templo assim que entraram no vale. Ele queria que um templo - bonito, barato, efetivo - fosse erguido no vale; queria relíquias e coisas assim, e todos aqueles poderosos símbolos da fé, objetos abençoados, medalhas misteriosas e rezas. Na sua bolsa tinha uma barra de prata cuja origem ele não se dispunha a revelar; insistia, com algo da insistência do mentiroso inábil, em que não havia prata nenhuma no vale. Eles tinham todos juntado seu dinheiro e ornamentos, disse ele, para comprar a ajuda divina contra seu mal, já que lá em cima tinham pouca necessidade desse tesouro. Imagino esse jovem montanhês de olhos fracos, queimado de sol, magro e ansioso, febril, segurando febrilmente a aba do chapéu, um homem totalmente desacostumado aos modos do mundo mais embaixo, contando essa história a algum sacerdote de olhos agudos, atencioso, antes da grande convulsão; posso vê-lo depois tentar voltar com remédios pios e infalíveis contra aquela perturbação, e a decepção infinita com que ele deve ter se defrontado com a imensidão despencada onde antes havia o desfiladeiro. Mas o resto de sua história de azares está perdido para mim, exceto que sei de sua infeliz morte após vários anos. Pobre homem perdido daquela região remota! O curso d' água que antes formava o desfiladeiro agora sai estrepitosamente da boca de uma caverna rochosa, e a lenda desencadeada por sua história infeliz e mal contada se desenvolveu numa história sobre uma raça de seres humanos cegos vivendo em algum lugar "para lá das montanhas", a qual ainda se pode ouvir hoje.
E em meio à pequena população daquele vale agora isolado e esquecido, a doença seguiu seu curso. Os velhos se tornaram tateantes e parcialmente cegos, os jovens viam apenas enevoadamente, e as crianças que nasceram deles nunca enxergaram nada. Mas a vida era muito fácil naquela bacia rodeada de neve, sem espinheiros ou eglantinas, sem insetos nocivos nem outro animal, exceto a raça mansa de lhamas que eles tinham carregado e levado e que subiram os leitos dos rios estreitados nos desfiladeiros sobre os quais tinham chegado.Os que viam tinham se tornado parcialmente cegos tão gradativamente que mal notaram sua perda de visão. Eles guiaram os jovens sem visão aqui e ali, até que estes conhecessem maravilhosamente bem todo o vale, e quando, no fim, a visão morreu entre eles, a raça sobreviveu. Tiveram até tempo para se adaptarem ao controle do fogo, que acendiam cuidadosamente em fogões de pedra. Eram um tipo simples de gente no começo, analfabetos, só ligeiramente tocados pela civilização espanhola, mas com algo da tradição das artes do velho Peru e de sua filosofia perdida. As gerações se seguiram. Esqueceram muitas coisas; descobriram outras. Sua tradição do mundo mais amplo de que tinham vindo adquiriu um acento incerto. Em todas as coisas, salvo na visão, eles eram fortes e hábeis, e depois o acaso do nascimento e da herança fazia nascer entre eles alguém que tinha uma mente original e que podia falar e persuadi-los, e logo depois surgia outro. Esses dois morreram, deixando seu legado, e a pequena comunidade cresceu em número e em conhecimento, e enfrentou e resolveu problemas sociais e econômicos que surgiram. As gerações se seguiram umas às outras. Chegou uma hora em que nasceu uma criança que estava a quinze gerações daquele ancestral que saíra do vale com uma barra de prata para buscar a ajuda de Deus, e que nunca voltara. Por volta dessa época aconteceu que um homem veio do mundo externo para essa comunidade. E esta é a história desse homem.
Era um montanhês da região perto de Quito, um homem que descera até o mar e tinha visto o mundo, um leitor de livros numa maneira original, um homem de inteligência aguda e empreendedor, e fora contratado por uma equipe de ingleses que tinha vindo ao Equador para escalar montanhas, para substituir um de seus três guias suíços que ficara doente. Escalaram aqui, escalaram acolá, e então veio a tentativa no Parascotopetl, o Matterhorn dos Andes, em que esse homem se perdeu para o mundo externo. A história do acidente foi escrita uma dezena de vezes. A narrativa de Pointer é a melhor. Ele conta como a pequena equipe lutou para subir o caminho difícil e quase vertical até o sopé do último e maior precipício, e como construíram um abrigo noturno em meio à neve numa pequena reentrância da rocha, com um toque de poder dramático real, como depois descobriram que Núñez tinha ido embora. Gritaram, e não houve resposta; gritaram e assobiaram e, pelo restante daquela noite, não dormiram mais. Quando amanheceu, viram os traços de sua queda. Parece impossível que esta tenha podido ocorrer sem que nenhum som tivesse sido emitido. Escorregara para leste, rumo ao lado desconhecido da montanha; muito abaixo tinha se chocado com uma aguda protuberância de gelo. e continuado a cair em meio a uma avalancha de neve. Sua pista ia direta à beira de um precipício medonho, e, para lá disso, tudo estava escondido. Muito, muito lá embaixo, e enevoadas pela distância, eles podiam ver as árvores subindo de um vale estreito, fechado - a perdida Terra dos Cegos. Mas não puderam saber que era a Terra dos Cegos, nem distingui-la de modo nenhum de qualquer outro trecho estreito de vale lá em cima. Nervosos com esse desastre, abandonaram sua tentativa à tarde, e Pointer foi convocado para a guerra antes que pudesse empreender uma nova escalada. Até hoje o Parascotopetl se ergue numa crista inconquistada, e o abrigo de Pointer está se arruinando entre as neves, sem que ninguém tenha voltado a visitá-lo.
E o homem que caiu sobreviveu.
No fim da encosta ele caiu mil pés, e caiu no meio de uma nuvem de gelo sobre uma encosta de neve ainda mais escarpada do que a de cima. Descendo, ele girou, bateu o corpo e ficou insensível, mas sem um único osso quebrado. E no fim veio a dar em encostas mais suaves, e finalmente parou de rolar e ficou imóvel, enterrado em meio a um monte macio das massas brancas que o tinham acompanhado e salvado. Voltou a si com uma tênue idéia de que estava doente, de cama; então percebeu sua posição com a inteligência de um montanhista, e se livrou da neve, e, depois de um descanso, andou até que viu as estrelas. Descansou deitado sobre o peito por um tempo, imaginando onde estava e o que lhe tinha acontecido. Examinou seus membros e descobriu que vários botões tinham desaparecido, e que o casaco estava em volta de sua cabeça. A faca tinha sumido do bolso e o chapéu tinha se perdido, embora ele o tivesse amarrado sob o queixo. Lembrou que estivera procurando pedras soltas para erguer seu trecho da parede do abrigo quando escorregara. Sua machadinha de gelo tinha desaparecido.
Chegou à conclusão de que devia ter caído, e olhou para cima para ver, exagerada pela luz fantasmagórica da lua nascente, a tremenda queda que tinha sofrido. Por um momento, permaneceu olhando vaziamente para aquela vasta parede de rocha pálida que culminava lá em cima, surgindo de momento a momento de uma maré rasante de escuridão. A beleza fantasmagórica; misteriosa, o manteve parado por um tempo, e então ele foi tomado de um paroxismo de riso soluçante ...
Depois de um grande intervalo, ele se tornou consciente de que estava perto da beira mais baixa da neve. Abaixo, sob o que era agora uma encosta enluarada e praticável, ele viu a aparição escura e interrompida de grama entre as rochas. Lutou para se levantar, com todas as articulações e membros doloridos, livrou-se com dificuldade da neve solta amontoada em torno dele, rumou para baixo até que chegou à grama e ali caiu, mais do que deitou, ao lado de uma pedra, bebeu profundamente do cantil em seu bolso interno e, instantaneamente, caiu no sono ...
Foi acordado pelo cantar dos pássaros nas árvores bem lá embaixo. Achou-se num pequeno monte ao pé de um vasto precipício, e percebeu que estava com ranhuras causadas pela descida que ele e a neve tinham sofrido. Acima, em frente dele, outra parede de rocha se erguia contra o céu. O desfiladeiro entre esses precipícios ia para o leste e para o oeste e estava cheio da luz do sol maatinal, que iluminava rumo ao oeste a massa de montanha caída que tinha fechado o desfiladeiro em descida. Rumo abaixo parecia haver um precipício igualmente agudo, mas, atrás da neve no canal da geleira, achou uma espécie de canaleta gotejante com água de neve, pela qual um homem desesperado podia aventurar-se. Descobriu que isso era mais fácil do que parecia, e chegou afinal a outro monte desolado, e então depois de uma escalada na rocha sem nenhuma dificuldade particular, a uma aguda encosta de árvores. Aprumou-se e volltou o rosto para cima do desfiladeiro, pois viu que este se abria lá em cima para prados verdes, entre os quais ele vislumbrou bastante distintamente um grupo de cabanas de pedra de construção não familiar. Às vezes o seu progresso era como escalar ao longo da face de uma parede, e depois de um tempo o sol nascente parou de brilhar sobre o desfiladeiro, as vozes dos pássaros morrreram ao longe, e o ar se tornou frio e escuro em torno dele. Mas o vale distante, com suas casas, era por isso mesmo cada vez mais brilhante. Chegou depois ao talude, e entre as rochas notou - pois era um homem observador - uma samambaia não familiar que parecia sair das reentrâncias com mãos intensamente verdes. Pegou uma ou duas folhas, mastigou a espiga da nervura e a achou comestível.
Por volta do meio-dia saiu afinal da garganta do desfiladeiro para o planalto e a luz do sol. Estava cansado e com os membros rígidos; sentou à sombra de uma rocha, encheu seu cantil com água de uma fonte e bebeu, e ficou descansando um tempo antes de seguir rumo às casas.
Elas pareceram muito estranhas para seus olhos e, na verdade, todo o aspecto daquele vale se tornou, à medida que o olhava, mais estranho e menos familiar. A maior parte de sua superfície era de luxuriante prado verde, manchado por muitas flores bonitas, irrigado com cuidado extraordinário; e exibindo indicações de colheita sistemática peça por peça. Bem alto e cercando o vale havia um muro, e o que parecia ser um canal circular, do qual vinham os filetes d' água que alimentavam as plantas da pradaria, e nas encostas mais altas, acima do canal, rebanhos de lhamas comiam o ralo pasto. Cercados, aparentemente abrigos ou manjedouras para as lhamas, se erguiam contra o muro fronteiriço aqui e ali. As correntes de irrigação corriam até se juntarem num canal principal rumo ao centro do vale, abaixo, e esse canal era cercado de cada lado por um muro à alltura do peito. Isso dava uma estranha qualidade urbana a esse lugar recluso, qualidade grandemente realçada pelo fato de que vários caminhos, pavimentados com pedras brancas e pretas, e cada um com uma curiosa pequena curva em cada esquina, iam para lá e para cá de modo ordenado. As casas da aldeia central eram bem diferentes da aglomeração casual e amontoada das aldeias montanhesas que ele conhecia; as casas ficavam numa fileira contínua de cada lado de uma rua central surpreendentemente limpa; aqui e ali, sua fachada multicolorida era perfurada por uma porta, e nem uma única janela quebrava sua frontaria harmoniosa. Eram multicoloridas com extraordinária irregularidade, manchadas com um tipo de cimento que era às vezes cinza, às vezes pardo, às vezes cor de ardósia ou marrom-escuro; e foi a visão desse colorido selvagem que trouxe primeiro a palavra" cego" aos pensamentos do explorador. "O bom homem que fez isso" , pensou, "deve ter sido tão cego quanto um morcego."
Ele desceu um trecho agudo, e assim chegou ao muro e ao canal que corriam em torno do vale, perto de onde o último despejava seu excesso nas profundezas do desfiladeiro num fio fino e ondulante de cascata. Agora ele podia ver alguns homens e mulheres descansando em montes empilhados de grama, como se estivessem gozando de uma sesta, na parte mais remota do prado, e perto da aldeia algumas crianças deitadas, e então, mais perto, três homens carregando baldes em armações presas aos ombros, ao longo de um pequeno caminho que levava do muro circundante rumo às casas. Esses três homens vestiam trajes de lã de lhama e tinham botas e cintos de couro e usavam chapéus de lã com aba traseira e protetores de ouvidos. Seguiam um ao outro como se fosse uma fila, andando devagar e bocejando enquanto andavam, como se fossem homens que tivessem ficado acordados a noite inteira. Havia algo tão reconfortante de prosperidade e respeitabilidade em seu comportamento que, depois de hesitar um momento, Núñez se ergueu para a frente tão visivelmente quanto possível, por cima da rocha, e deu um grande grito que ecoou em torno do vale.
Os três homens pararam e moveram as cabeças como se estivessem olhando em torno deles. Viraram o rosto para lá e para cá, e Núñez gesticulou largamente. Mas eles não pareceram vê-lo, apesar de todos os seus gestos, e, depois de um tempo, dirigindo-se para as montanhas longínquas à direita, eles gritaram como em resposta. Núñez berrou de novo, e enquanto gesticulava de novo sem resultado, a palavra "cego" surgiu bem clara em seus pensamentos. "Esses loucos devem ser cegos", disse.
Quando, no fIm, depois de muita gritaria e ira, Núñez atravessou o curso d' água por sobre uma pequena ponte, passou por um portão no muro e se aproximou deles, teve certeza de que eles eram cegos. Estava convencido de que essa era a Terra dos Cegos da qual falavam as lendas. A convicção havia se apossado dele, assim como um sentido de grande e na verdade invejável aventura. Os três estavam parados um ao lado do outro, não olhando para ele, mas dirigindo os ouvidos para ele, avaliando-o por seus passos não familiares. Eles se mantinham bem perto um do outro, como homens um tanto amedrontados, e ele podia ver suas pálpebras fechadas e afundadas, como se os próprios globos oculares ali embaixo tivessem afundado. Havia uma expressão próxima do pavor em seus rostos.
"Um homem", disse um deles, em espanhol mal reconhecível, "é um homem - um homem ou um espírito - descendo das rochas."
Mas Núñez avançou com os passos confiantes de um jovem que está começando a vida. Todas as antigas histórias do vale perdido e da Terra dos Cegos voltaram à sua mente, e em meio a seus pensamentos passava esse velho provérbio, como se fosse um refrão:
"Em terra de cego, quem tem um olho é rei." "Em terra de cego, quem tem um olho é rei."
E muito cortesmente os cumprimentou. Falou a eles utilizando os olhos. "De onde ele vem, irmão Pedro?", perguntou um deles.
"Desceu das rochas."
"Venho do alto das montanhas", disse Núñez, "fora deste lugar aqui - onde os homens podem ver. De perto de Bogotá, onde há cem mil pessoas e não se vê o fim da cidade."
"Não se vê?", murmurou Pedro."Não se vê?"
"Ele vem", disse o segundo cego. de para lá das rochas."
O tecido de seus casacos, viu Núñez, era modelado curiosamente, cada um com um tipo diferente de costura.
Eles o assustaram com um movimento simultâneo rumo ao seu encontro, cada um com uma mão estendida. Ele recuou diante do avanço desses dedos abertos.
"Venha cá" , disse o terceiro cego, seguindo o movimento de Núñez e o agarrando.
E eles seguraram Núñez e o apalparam, não dizendo nenhuma palavra mais enquanto não terminaram.
"Cuidado", disse ele, sentindo um dedo no olho, e descobriu que eles achavam esse órgão uma coisa esquisita nele, com suas pálpebras piscantes. Eles repetiram o apalpamento.
"Uma criatura estranha, Correa", disse o de nome Pedro. "Sinta a dureza de seus cabelos. Como o pêlo de uma lhama."
"Ele é áspero como as rochas que o pariram", disse Correa, investigando o queixo não barbeado de Núñez e sua mão ligeiramente úmida. "Talvez se torne menos áspero." Núñez lutou um pouco enquanto era examinado, mas eles o seguraram firmemente.
"Cuidado", disse de novo.
"Ele fala", disse o terceiro homem. "Certamente é um homem." "Ugh!", disse Pedro, ao experimentar a aspereza do casaco de Núñez. "E você veio para o mundo?", perguntou Pedro.
"Saí do mundo. Por montanhas e geleiras; logo ali acima, a meio caminho do sol. Saí do grande, do enorme mundo que desce, em doze dias de jornada, rumo ao mar."
Eles pareciam lhe prestar pouca atenção. "Nossos pais nos disseram que os homens podem ser feitos pelas forças da natureza", disse Correa. "É o calor das coisas e a umidade, e a podridão - podridão."
"Vamos levá-lo aos anciãos", disse Pedro.
"Grite antes", disse Correa, "para que as crianças não tenham medo. Esta é uma ocasião importante."
Então eles gritaram, e Pedro foi na frente e tomou Núñez pela mão, para levá-lo às casas.
Núñez afastou a mão. "Posso ver", disse.
"Ver?", disse Correa.
"Ver", disse Núñez, voltando-se para ele, e tropeçou no balde de Pedro. "Os sentidos dele ainda são imperfeitos", disse o terceiro cego. "Tropeça e fala palavras sem sentido. Levem-no pela mão."
"Como vocês quiserem", disse Núñez, e foi conduzido pela mão, rindo. Parecia que eles não sabiam de nada sobre a visão.
Bem, com o tempo ele os ensinaria.
Ouviu pessoas gritando, e viu algumas figuras se reunindo no caminho do meio da aldeia.
Achou que aquilo o enervou e impacientou mais do que tinha esperado, aquele primeiro encontro com a população da Terra dos Cegos. O lugar parecia maior, à medida que se aproximava dele, e as cores manchadas mais esquisitas, e uma multidão de crianças, homens e mulheres (as mulheres e as garotas, notou com agrado, tinham algumas delas rostos bastante bonitos, apesar de seus olhos estaarem fechados e afundados) chegou junto dele, segurando-o, tocando-o com mãos suaves e sensíveis, cheirando-o e ouvindo cada palavra que ele dizia. Algumas das garotas e das crianças, entretanto, se mantinham longe, como se tivessem medo, e realmente sua voz parecia mais áspera e rude em relação aos tons deles, mais suaves. Eles o cercaram. Seus três guias se mantiveram perto dele, com um ar de propriedade, e diziam e repetiam: "Um homem selvagem que veio das rochas".
"De Bogotá", disse Núñez. "De Bogotá. Para lá das cristas das montanhas."
"Um homem selvagem - falando palavras selvagens" , disse Pedro. ''Vocês ouviram isso - Bogotá? Sua mente ainda não está formada. Ele tem apenas os começos da fala."
Um garotinho acariciou a mão de Núñez. "Bogotá", disse, debochando. ' "Ai!Uma cidade, comparada à sua aldeia. Venho do grande mundo - onde os homens têm olhos e vêem."
"O nome dele é Bogotá", disseram.
"Tropeçou", disse Correa,"tropeçou duas vezes enquanto chegávamos aqui."
"Levem-no para os anciãos."
E eles o empurraram subitamente porta adentro,numa sala tão escura quanto piche,a não ser no outro extremo, onde brilhava fracamente uma pequena fogueira.A multidão fechou o caminho atrás dele e bloqueou quase completamente a luz do dia e,antes que ele pudesse se deter, tinha caído de cabeça aos pés de um homem sentado. Seu braço,estendido, bateu no rosto de alguém enquanto caía; ele sentiu o macio toque na face e ouviu um grito de raiva, e por um momento lutou contra várias mãos que o agarraram. Era uma luta desigual. Ele se deu conta da situação e ficou quieto.
"Caí", disse. "Não pude ver nesta escuridão profunda."
Houve uma pausa, como se as pessoas não vistas em torno dele tentassem entender suas palavras. Então a voz de Correa disse: "Ele acaba de ser criado. Tropeça quando anda e mistura palavras que não querem dizer nada quando fala".
Outros também disseram coisas que ele mal ouviu ou entendeu imperfeitamente.
"Posso me levantar?", perguntou, numa pausa do vozerio. "Não vou lutar com vocês de novo."
Eles se consultaram entre si e o deixaram levantar-se.
A voz de um homem mais velho começou a interrogá-lo, e Núñez se viu tentando explicar o grande mundo do qual ele tinha caído, e o céu, as montanhas, a visão e outras tantas maravilhas, àqueles anciãos sentados no escuro na Terra dos Cegos. E eles não acreditavam em nada e não entendiam nada do que ele lhes dizia, fato bem fora das expectativas de Núñez. Há catorze gerações essas pessoas eram cegas e separadas do mundo da visão; os nomes de todas as coisas referentes à visão tinham desaparecido e mudado; a história do mundo lá fora tinha desaparecido e mudado para uma história infantil; e eles tinham deixado de se preocupar com qualquer coisa para lá das encostas rochosas de seu muro circundante. Cegos de gênio tinham surgido entre eles e questionado os restos de crença e tradição que o povo trazia consigo de seus dias de visão, e haviam posto de lado todas essas coisas como fantasias ociosas e as substituído com explicações novas e mais críveis. Muita coisa de sua imaginação tinha murchado junto com seus olhos; e eles criaram para si mesmos novas imaginações com seus ouvidos e dedos cada vez mais sensíveis. Lentamente Núñez se deu conta disso; que sua expectativa de admiração e reverência em relação à sua origem e seus dons não iria frutificar; e que depois que sua precária tentativa de lhes explicar a visão tinha sido posta de lado como a versão confusa de um ser recém-criado descrevendo as maravilhas de suas sensações incoerentes, ele se conformou, um tanto espantado, em ouvir a instrução deles. E o mais velho dos cegos explicou a ele a vida, a filosofia e a religião, como o mundo (querendo dizer seu vale) tinha sido inicialmente um vazio oco nas rochas, e então surgiram, primeiro, coisas inanimadas sem o dom do tato, e depois as lhamas e umas poucas outras criaturas que tinham pouco sentido das coisas, e então os seres humanos, e enfim os anjos, que se podiam ouvir cantando e se agitando, mas os quais ninguém podia tocar, história que muito espantou Núñez, até que ele pensou nos pássaros.
O ancião continuou contando a Núñez como o tempo tinha sido dividido entre o quente e o frio, que são os equivalentes dos cegos ao dia e à noite, e como era bom dormir no quente e trabalhar no frio, de modo que agora, não fosse por sua chegada, toda a cidade dos cegos estaria dormindo. Ele disse que Núñez devia ter sido criado especialmente para aprender e servir a sabedoria que eles tinham adquirido e que, apesar de toda a sua incoerência mental e todo o seu comportamento estabanado ele precisava ter coragem, e fazer o melhor para aprender, e diante disso toda a multidão na porta assentiu de modo encorajador. Ele disse que a noite - pois os cegos chamam noite a seu dia - estava agora muito avançada, de modo que todos deviam ir para casa dormir. Perguntou a Núñez se este sabia dormir e Núñez disse que sabia, mas que antes de dormir ele queria comer.
Trouxeram-lhe comida -leite de lhama numa cuia, e pão duro salgado - e o levaram a um lugar solitário de modo que eles não o ouvissem comer, e depois ele deveria dormir até que o frio da noite na montanha os acordasse para começar seu dia de novo. Mas Núñez não dormiu de jeito nenhum.
Em vez disso, ele sentou no lugar em que o deixaram, descansando os membros e fazendo girar e girar na mente as circunstâncias inesperadas de sua chegada.
De vez em quando ele ria, às vezes divertido, às vezes indignado.
"Mente não formada!", disse. "Ainda não formou os sentidos! Mal sabem que estão insultando o seu rei e mestre enviado do céu. Vejo que preciso trazê-los à razão. Deixem-me pensar - deixem-me pensar."
Ainda estava pensando quando o sol se pôs.
Núñez tinha um olho para todas as coisas bonitas, e lhe pareceu que o fulgor brilhante sobre os campos nevados e as geleiras em torno do vale era a coisa mais bela que ele jamais tinha visto. Seus olhos foram daquela glória inacessível para a aldeia e para os campos irrigados, que afundavam rapidamente no lusco-fusco, e de repente uma onda de emoção o tomou, e ele deu graças a Deus, do fundo do coração, por ter sido dado a ele o dom da visão.
Ouviu uma voz chamando por ele a partir da aldeia: "Olá, aí, Bogotá!
Venha cá!".
Com isso ele interrompeu o sorriso. Ele iria mostrar a essa gente, de uma vez por todas, o que a visão pode fazer por um ser humano. Iriam procurá-lo, mas não o achariam.
"Não se mova, Bogotá", disse a voz.
Ele riu sem fazer barulho e deu dois passos sorrateiros para fora do caminho. "Não pise na grama, Bogotá; isso é proibido."
Núñez não tinha ouvido o ruído que ele próprio fizera. Parou, espantado. O dono da voz veio correndo ao caminho pintalgado em direção de Núñez. Este voltou para o caminho. "Aqui estou", disse.
"Por que você não veio quando o chamei?", disse o cego. 'Você precisa ser levado como uma criança? Não pode ouvir o caminho enquanto anda?"
Núñez riu. "Posso vê-lo", disse.
"Não existe a palavra ver", disse o cego, após uma pausa. "Pare com essa loucura e siga o som de meus pés."
Núñez o seguiu, um tanto aborrecido. "Minha vez vai chegar", disse.
'Você vai aprender", respondeu o cego. "Há muita coisa para aprender no mundo."
"Nunca lhe disseram 'Em terra de cego, quem tem um olho é rei'?"
"O que é cego?", perguntou o cego, despreocupadamente, por cima do ombro.
Quatro dias se passaram, e o quinto dia encontrou o Rei dos Cegos ainda incógnito, como um estranho desajeitado e inútil entre seus súditos.
Núñez descobriu que era muito mais difícil se proclamar rei do que tinha suposto, e, no intervalo, enquanto meditava em seu golpe de Estado, ele fez o que lhe diziam e aprendeu as maneiras e costumes da Terra dos Cegos. Achou que trabalhar e andar durante a noite era uma coisa particularmente exaustiva, e decidiu que essa era a primeira coisa que iria mudar.
Essa gente levava uma vida simples, laboriosa, com todos os elementos de virtude e felicidade como essas coisas podem ser entendidas pelos seres humanos. Trabalhavam, mas não de modo opressivo; tinham comida e roupa suficientes para suas necessidades; tinham dias e estações de descanso; tocavam música e dançavam muito, havia amor entre eles, e crianças pequenas.
Era maravilhoso ver a confiança e a precisão com que eles caminhavam em seu mundo bem ordenado. Tudo tinha sido feito para se adequar às suas necessidades; cada um dos caminhos que se irradiavam na área do vale tinha um ângulo constante em relação aos outros, e cada um deles era distinguido por uma cunha especial sobre sua curva; tinham sido limpos e arrumados, havia muito tempo, todos os obstáculos e irregularidades do caminho ou da pradaria; todos os seus métodos e procedimentos se originavam naturalmente de suas necessidades específicas. Seus sentidos tinham se tornado maravilhosamente agudos; podiam ouvir e avaliar o menor gesto de um ser humano a uma dezena de passos - podiam ouvir até a batida de seu coração. A entonação havia muito tinha substituído as expressões do rosto, e os toques pelo tato tinham substituído os gestos indicativos; seu trabalho com enxada, pá e ancinho era tão fácil e confiante como a jardinagem pode ser. Seu sentido do olfato era extraordinariamente agudo; podiam distinguir diferenças individuais tão rapidamente quanto um cachorro, e eles faziam o manejo das lhamas, que viviam entre as rochas lá em cima e vinham ao muro buscar comida e abrigo, com facilidade e confiança. Foi somente quando, no fim, Núñez procurou se afirmar perante eles, que descobriu quão fáceis e confiantes eram os movimentos deles.
Ele se rebelou somente depois de tentar persuadi-los.
Tentou no início, em várias ocasiões, explicar-lhes a visão. "Escutem-me", disse. "Há coisas em mim que vocês não entendem."
Umas vezes um ou dois deles o atendiam; sentavam com os rostos abaixados e os ouvidos voltados inteligentemente na direção de Núñez, e ele fez o melhor que pôde para lhes explicar o que era ver. Entre seus ouvintes havia uma garota, com pálpebras menos vermelhas e afundadas do que os outros, de modo que quase se podia imaginar que ela estava escondendo os olhos, e a qual ele esperava especialmente convencer. Ele falou das belezas da visão, de olhar as montanhas, do céu e do nascer do sol, e eles o ouviam com incredulidade divertida que, depois, se tornou condenatória. Disseram-lhe que não havia montanhas de modo nenhum, mas que o fim das rochas onde as lhamas pastavam era na verdade o fim do mundo, dali partia um teto cavernoso do universo, de onde vinham o orvalho e as avalanches; e quando ele se manteve firme na afirmação de que o mundo não tinha fim nem teto, ao contrário do que eles supunham, eles disseram que seus pensamentos eram pecaminosos. Até o ponto em que ele podia descrever o céu, as nuvens e as estrelas para eles, tudo isso lhes parecia um vácuo monstruoso, um terrível vazio no lugar do teto liso sobre as coisas no qual acreditavam - era um artigo de fé entre eles que o teto da caverna era plenamente liso ao toque. Núñez percebeu que de algum modo ele os chocava, desistiu de vez desse assunto, e tentou mostrar-lhes o valor prático da visão. Uma manhã viu Pedro no caminho chamado Dezessete, vindo para as casas centrais, mas ainda longe demais para a audição ou o olfato, e lhes contou isso. "Em pouco tempo",previu, "Pedro estará aqui." Um velho notou que Pedro não tinha nada para fazer no caminho Dezessete e então, como que para confirmar isso, Pedro, quando chegou mais perto, virou e caminhou transversalmente para o caminho Dez, e então caminhou com passos ágeis rumo ao muro externo. Eles ridicularizaram Núñez quando Pedro não chegou, e depois, quando Núñez fez perguntas a Pedro para esclarecer o assunto, Pedro negou e o enfrentou, e daí em diante se tornou hostil a Núñez. Então ele os induziu a deixá-lo subir bem longe pelas encostas da pradaria, rumo ao muro, com um companheiro que concordasse, e para ele prometeu descrever tudo que acontecia entre as casas. Ele notou certas idas e vindas, mas as coisas que realmente pareciam ter significado para aquela gente aconteciam dentro ou atrás das casas sem janelas - as únicas coisas de que tomavam nota para testá-lo - e dessas coisas ele não podia ver ou dizer nada, e foi após o fracasso dessa tentativa, e da ridicularização que eles não conseguiram reprimir, que ele recorreu à força. Pensou em segurar uma pá e de repente derrubar um ou dois no chão, e assim em combate leal mostrar a vantagem dos olhos. Chegou, até,com essa resolução, a segurar sua pá, e então descobriu algo de novo a seu respeito, que era impossível para ele agredir um cego a sangue-frio. Hesitou e descobriu que todos haviam percebido que ele agarrara a pá. Eles ficaram em alerta, com suas cabeças de lado, e ouvidos inclinados rumo a ele,para detectar o que ele iria fazer em seguida. 'Abaixe essa pá", disse um deles, e ele sentiu uma espécie de horror indizível.Tendeu a obedecer. Então empurrou um dos cegos contra a parede de uma casa, e fugiu para fora da aldeia. Foi por sobre uma de suas pradarias, deixando um rastro de grama esmagada por seus pés, e depois sentou ao lado de um dos caminhos deles. Sentiu algo da expectativa que acomete todos os homens no começo de uma luta, mas uma perplexidade maior. Começou a perceber que não se pode nem lutar com ânimo contra criaturas que estão numa situação mental diferente da sua. Ao longe, viu um grupo de homens carregando pás e cacetes, saindo da rua de casas, e avançando em filas que se espalhavam pelos vários caminhos na direção dele. Avançavam devagar, falando freqüentemente um ao outro, e sempre e sempre toda a fileira parava, cheirava o ar e escutava. Na primeira vez em que fizeram isso, Núñez riu. Mas depois já não riu. Um deles percebeu a trilha de Núnez na grama do prado, e veio inclinando-se e sentindo o caminho ao longo da trilha. Durante cinco minutos Núñez observou o lento espalhamento da fileira de cegos, e então sua vaga disposição de fazer alguma coisa se tornou frenética. Levantou-se, deu um ou dois passos em direção ao muro circular, virou-se e voltou um pouco atrás. Ali estavam todos eles parados, formando uma meia-lua, silenciosos e procurando escutar. Ele também ficou parado, agarrando firmemente sua pá com as duas mãos. Devia atacá-los? A pulsação nos seus ouvidos corria ao ritmo de "Em terra de cego, quem tem um olho é rei!". Devia atacá-los? Olhou para trás rumo ao muro alto e inescalável- inescalável por causa de seu cimento liso, mas também perfurado com muitas portinholas, e olhou para a linha que se aproximava de seus perseguidores. Atrás desses, agora vinham outros da rua das casas. Devia atacá-los? "Bogotá!", um deles chamou. "Bogotá, onde está você?" Ele agarrou sua pá ainda mais firmemente e avançou pela pradaria rumo ao lugar das habitações, e diretamente, enquanto andava, eles convergiram em torno dele. "Vou golpeá -los se me tocarem", jurou. "Por Deus, vou fazer isso. Vou golpeá-los." Berrou: "Olhem aqui, vou fazer o que quiser neste vale. Vocês estão ouvindo? Vou fazer o que quero e ir aonde quero". Eles estavam rapidamente se movendo rumo a ele, tateando, mas se movendo rapidamente. Era como brincar de cabra-cega, com todo mundo cego meenos um. "Peguem-no!", gritou um deles. Núñez se viu no arco de uma curva solta de perseguidores. Sentiu subitamente que precisava entrar resolutamente em ação. "Vocês não entendem", gritou numa voz que pretendia ser imperiosa e resoluta, e que foi fraca. 'Vocês são cegos, e eu posso ver. Deixem-me em paz!" "Bogotá! Largue essa pá, e saia da grama!" Essa última ordem, grotesca com sua familiaridade civilizada, produziu um acesso de raiva. ''Vou machucá-los", disse Núñez, soluçando de emoção. "Por Deus, vou machucá-los. Deixem-me em paz!" Começou a correr, sem saber claramente para onde correr. Correu para longe do cego mais próximo, pois era um horror golpeá-lo. Parou, então fez uma tentativa para escapar das fileiras deles que o cercavam. Rumou para onde havia um grande vazio, e os homens de cada lado, com uma rápida percepção da aproximação de seus passos, juntaram-se uns aos outros, preenchendo o vazio. Núñez pulou para a frente, e então viu que iria ser capturado e golpeou alguém com a pá. Núñez sentiu o macio choque de mão e braço, e o homem estava caído com um grito de dor, e Núñez tinha conseguido passar! Tinha conseguido passar! E então estava de novo perto da rua das casas, e cegos, girando pás e estacas, estavam correndo com uma espécie de rapidez calculada para lá e para cá. Núñez ouviu passos atrás dele ainda a tempo, e descobriu um homem alto correndo para a frente e procurando, pelos sons, golpear Núñez. Este perdeu a paciência, atirou a pá que caiu a uma jarda do seu antagonista, virou-se e fugiu, berrando alto enquanto fintava outro. Estava tomado pelo pânico. Correu furiosamente para lá e para cá, fintando com a pá quando não havia nenhuma necessidade de fintar, e, em sua ansiedade para enxergar de todos os lados de uma vez só, acabou tropeçando. Por um momento ficou caído e eles ouviram sua queda. Longe, no muro circular, uma portinhola parecia o Paraíso, e ele correu selvagem ente rumo a ela. Nem olhou seus perseguidores até que chegou à portinhola, tropeçou em meio à ponte, engatinhou um pouco pelas rochas, para a surpresa e desgosto de uma jovem lhama que saiu pulando de sua visão, e deitou resfolegando, sem ar.E assim acabou o seu golpe de Estado. Ficou fora do muro do vale dos cegos duas noites e dois dias, sem comida ou abrigo, e meditou sobre o inesperado. Durante essas meditações ele repetia muito freqüentemente, e sempre com um tom cada vez mais profundo de derrisão, o provérbio que explodira: "Em terra de cego, quem tem um olho é rei". Pensou sobretudo em maneiras de lutar e conquistar esse povo, e se tornou claro para ele que não havia uma maneira factível. Não tinha armas, e agora seria difícil obtê-las. A doença da civilização o tomara mesmo em Bogotá, e ele não podia achar meios em si mesmo de descer a ponto de assassinar um cego. É claro que, se fizesse isso, poderia ditar os termos sob ameaça de assassiná-los a todos. Mas, mais cedo ou mais tarde, precisava dormir!. .. Também tentou achar comida entre os pinheiros, sentir conforto sob ramos de pinhas enquanto o sereno caía à noite, e - com menos confiança - capturar uma lhama por artimanha para tentar matá-la - talvez batendo nela com uma pedra - e assim, talvez, comer um pouco dela. Mas a lhama duvidou dele e o encarou com desconfiados olhos castanhos, e cuspiu quando ele chegou perto. Ele teve medo e acessos de tremores no segundo dia. Finalmente rastejou de volta para o muro da Terra dos Cegos e tentou entrar num acordo. Rastejou ao longo do curso d' água, gritando, até que dois cegos vieram ao portão e falaram com ele. "Eu enlouqueci", disse. "Mas eu tinha acabado de ser criado." Eles disseram que isso era melhor. Ele lhes contou que estava mais sábio agora, e se arrependia de tudo que tinha feito. Então chorou sem querer, pois estava agora muito fraco e doente, e eles tomaram isso como um bom sinal. Perguntaram se ele ainda pensava que podia "ver". "Não" , disse. "Isso era loucura. A palavra não quer dizer nada - menos do que nada!" Perguntaram a ele o que havia acima. "Cerca de cem vezes a altura de um homem há um teto sobre o mundo de rocha - e liso, muito liso .... " Irrompeu de novo em lágrimas histéricas. 'Antes que vocês me perguntem mais coisas, me dêem comida ou vou morrer." Ficou esperando duros castigos, mas esse povo cego era capaz de tolerância. Encararam sua rebelião como mais uma prova da idiotia e inferioridade gerais dele, e, depois que o chicotearam, o indicaram para fazer o trabalho mais simples e mais pesado que tinham para alguém fazer, e ele, não vendo outro modo de vida, fez submisso o que lhe disseram para fazer. Ficou doente uns dias, e eles cuidaram dele bondosamente. Isso fez se intensificar sua submissão. Mas eles insistiram em que ele permanecesse no escuro, e essa era uma grande miséria. E filósofos cegos vinham e falavam a ele da pecaminosa leviandade de sua mente, e o repreenderam de tal maneira por suas dúvidas sobre a tampa de rocha que cobria sua panela cósmica que ele quase duvidou se na verdade não era vítima de alucinações ao não ver a tampa lá em cima. Então Núñez se tornou um cidadão da Terra dos Cegos, e esse povo deixou de ser um povo generalizado; eles se tornaram individualidades familiares para ele, enquanto o mundo além das montanhas se tornou cada vez mais remoto e irreal. Havia Yacob, seu patrão, homem bondoso quando não estava aborrecido; havia Pedro, sobrinho de Yacob, e havia Medina-saroté, a fllha caçula de Yacob. Ela era pouco estimada no mundo dos cegos, porque tinha um rosto anguloso e não aquela maciez satisfatória, vítrea, que é o ideal, para o cego, da beleza feminina; mas Núñez achou-a linda desde o início, e depois a coisa mais linda neste mundo. As pálpebras fechadas dela não eram vermelhas e afundadas como era comum no vale, mas parecia que podiam se abrir de novo a qualquer momento, e ela tinha longos cílios, o que levava os outros a julgarem seu rosto gravemente desfigurado. E sua voz era forte, e não satisfazia a audição aguda dos jovens do vale. Assim, não tinha amante. Chegou a hora em que Núñez pensou que, se pudesse conquistá-la, ele poderia resignar-se a viver no vale pelo restante de seus dias. Ele a observava; buscava oportunidades de lhe prestar pequenos serviços, e depois percebeu que ela o observava. Uma vez, numa reunião num dia de descanso, eles sentaram lado a lado à tênue luz das estrelas, e a música era doce a seus ouvidos. A mão dele pousou sobre a dela e ele ousou apertá-la. E então, ternamente, ela fez pressão de volta. E um dia, quando tomavam sua refeição no escuro, ele sentiu a mão dela procurando suavemente por ele e, como por acaso, o fogo crepitou e ele viu a ternura do rosto dela. Ele tentou falar com ela. Foi procurá-la um dia quando ela estava sentada ao luar fiando. A lua a tornava uma coisa de prata e de mistério. Ele sentou aos pés dela e disse que a amava, e disse quão linda ela parecia para ele. Tinha a voz de um amante, falava com uma terna reverência que chegava perto da adoração, e ela nunca tinha sido antes tocada pela adoração. Ela não deu a ele nenhuma resposta definida, mas fiicou claro que suas palavras lhe agradavam. Depois disso ele falava com ela sempre que tinha oportunidade. O vale se tornou o mundo para ele, e o mundo para além das montanhas, em que os homens viviam à luz do sol, parecia não mais do que um conto de fadas que ele iria um dia sussurrar aos ouvidos dela. Com muito cuidado, experimentando de várias formas, ele timidamente falou a ela da visão. A visão parecia a ela a mais poética das fantasias, e ela ouvia a descrição dele das estrelas e das montanhas e da própria beleza dela iluminada de branco como se fosse uma indulgência pecaminosa. Ela não acreditava, podia entender apenas parte do que ele dizia, mas estava misteriosamente encantada e pareceu a ele que ela entendia tudo. O amor dele perdeu a adoração imobilizadora inicial e cresceu em coragem. Depois ele decidiu pedi-la em casamento a Yacob e aos anciãos, mas ela ficou com medo e foi retardando as coisas. E foi uma de suas irmãs mais velhas a primeira a contar a Yacob que Medina-saroté e Núñez estavam apaixonados um pelo outro. Houve desde o início oposição muito grande ao casamento de Núñez e Medina-saroté; não tanto porque a valorizavam, mas porque tinham Núñez como um ser à parte, um idiota, incompetente, uma coisa abaixo do nível permissível para um ser humano. As irmãs dela se opuseram brutalmente ao casamento, como se este fosse deixá-las a todas mal-afamadas; e o velho Yacob, embora tivesse formado uma espécie de afeição por esse servo desajeitado e obediente, sacudiu a cabeça e disse que não podia ser. Os homens jovens ficaram todos irritados com a idéia de corromper a raça, e um foi tão longe na sua indignação a ponto de xingar e agredir Núñez. Este reagiu à agressão. Então, pela primeira vez, descobriu uma vantagem em poder ver, mesmo ao lusco-fusco, e depois que essa luta terminou, ninguém mais se dispôs a levantar a mão contra ele. Mas ainda achavam impossível o casamento. O velho Yacob tinha uma certa ternura por sua filha pequena, e ficou abalado ao tê-la chorando em seu ombro. 'Você percebe, querida, ele é um idiota. Sofre de alucinações; não pode fazer nada direito." "Sei disso", chorou Medina-saroté. "Mas ele está melhor do que já foi. Está se tornando melhor. E ele é forte, querido papai, e bom - mais forte e mais bondoso do que qualquer outro homem no mundo. E me ama, e, papai, eu o amo." O velho Yacob ficou muito preocupado ao descobrir que ela estava inconsolável e, além disso, o que o deixava ainda mais preocupado, ele gostava de Núñez por muitas razões. Então compareceu à câmara do conselho com os outros anciãos, observou o rumo da conversa, e disse, no momento adequado: "Ele está melhor do que já foi. Muito provavelmente um dia vamos julgá-lo tão bom quanto nós próprios". Então um dos anciãos, depois de pensar profundamente, teve uma idéia. Ele era o grande médico entre aquelas pessoas, seu curandeiro, tinha uma mente muito filosófica e inventiva, e a idéia de curar Núñez de suas peculiaridades o atraía. Um dia, quando Yacob estava presente, ele voltou ao tópico de Núñez. "Examinei Bogotá", disse, "e o caso está mais claro para mim. Penso que muito provavelmente ele pode ser curado." "Isso é o que sempre esperei", disse o velho Yacob. "O cérebro dele é que é afetado", disse o médico cego. Os anciãos fizeram um murmúrio de assentimento. 'Agora, o que o afeta?" 'Ah!", disse o velho Yacob. "Isto", disse o médico, respondendo à sua própria pergunta. "Essas estranhas coisas que chamamos os olhos, e que existem para fazer uma depressão macia e agradável no rosto, são doentes, no caso de Bogotá, de uma maneira tal que afeta seu cérebro. São excessivamente estendidas, ele tem cílios e suas pálpebras se movem, e conseqüentemente seu cérebro está num estado de constante irritação e distração." "Sim?", disse o velho Yacob. "Sim?" "E acho que posso dizer com razoável certeza que, para curá-lo completamente, tudo que precisamos fazer é uma cirurgia bem fácil- ou seja, extrair esses corpo irritantes." "E então ele ficará são?" "E então ele ficará perfeitamente são e será um cidadão bem respeitável." "Graças aos céus pela ciência!", disse o velho Yacob, e correu para contar a Núñez suas felizes esperanças. Mas o modo como Núñez recebeu a boa-nova surpreendeu Yacob como sendo frio e decepcionante. "Poderia se pensar", disse Yacob, "pelo tom que você fala, que você não se incomoda com minha filha." Foi Medina-saroté quem convenceu Núñez a enfrentar os cirurgiões cegos. "Você não quer que eu", disse ele, "perca meu dom da visão?"
Ela sacudiu a cabeça.
"Meu mundo é a visão."
Ela baixou a cabeça.
"Há as coisas belas, as pequenas coisas belas - as flores, os liquens entre as rochas, a leveza e a maciez numa pele, o céu longínquo com o passar das nuvens, os pores-de-sol e as estrelas. E tem você. Para ver apenas você já é bom ter a visão, para ver seu rosto doce, sereno, seus lábios bondosos, suas queridas e belas mãos entrecruzadas ... São esses olhos meus que você conquistou, esses olhos que me mantêm ligado a você, são esses olhos que esses idiotas querem tirar. Em vez disso, preciso tocar você, ouvir você, e não devo ver você nunca mais. Preciso ficar sob esse teto de rocha, pedra e escuridão, esse horrível teto sob o qual a sua imaginação definha ... Não, você não me obrigaria a fazer isso?"
Uma dúvida desagradável tinha surgido dentro dele. Parou e deixou no ar a pergunta.
"Eu desejo", disse ela, "às vezes -" Ela parou de falar.
"Sim", disse ele, um pouco apreensivo.
"Desejo às vezes - que você não fale assim."
'Assim, como?"
"Sei que é bonito - é a sua imaginação. Eu amo a sua imaginação, mas agora-"
Ele esfriou. "Agora?", disse, com voz débil. Ela sentou e ficou quieta e calada.
"Você quer dizer - você acha - que eu ficaria melhor, melhor talvez _"
Ele estava percebendo as coisas bastante rapidamente. Sentiu raiva, de verdade, raiva, diante do duro curso do destino, mas também simpatia pela falta de compreensão dela - uma simpatia próxima da piedade.
"Querida", disse, e ele podia agora ver, pela palidez dela, quão intensamente o espírito dela pressionava contra as coisas que ela não podia dizer. Ele a rodeou com os braços, beijou-lhe a orelha, e eles permaneceram sentados um tempo em silêncio.
"E se eu consentisse nisso?", disse ele afinal, numa voz muito suave.
Ela o apertou em seus braços, chorando muito. "Oh, se você consentisse", soluçou, "se você apenas consentisse!"
Durante a semana anterior à operação que deveria erguê-Lo da servidão e da inferioridade para o nível de um cidadão cego, Núñez não dormiu nem um pouco, e durante todas as horas quentes de sol, enquanto os demais ressonavam felizes, ele ficava sentado meditando ou andava sem rumo, tentando levar sua mente a suportar o dilema. Tinha dado a resposta, tinha dado o consentimento, e ainda assim não tinha certeza. E no fim, o horário de trabalho tinha acabado, o sol nasceu em esplendor por sobre as cristas douradas, e o último dia de visão começou para ele. Teve uns minutos com Medina-saroté antes que ela partisse para dormir.
"Amanhã", disse ele, "não verei mais."
"Oh, querido do meu coração!", ela respondeu, e apertou as mãos dele com toda a força.
"Machucarão você só um pouco", ela disse; "e você vai passar por essa dor - você vai passar por isso, querido amor, por mim ... Querido, se o coração e a vida de uma mulher podem fazer isso, vou recompensar você. Queridíssimo, queridíssimo, você, com sua voz terna, vou recompensá-lo."
Ele ficou inundado de piedade por ele mesmo e por ela.
Segurou-a nos braços, e apertou os lábios contra os dela, e olhou o doce rosto dela pela última vez. 'Adeus!", sussurrou diante dessa querida visão, "adeus!"
E então, em silêncio, ele a deixou.
Ela pôde ouvir os lentos passos dele à saída, e algo no ritmo dos passos a levou a um choro apaixonado.
Ele tinha decidido firmemente ir a um lugar solitário, onde a pradaria era bonita, com narcisos brancos, e ali ficar até que chegasse a hora de seu sacrifício, mas enquanto andava ergueu os olhos e viu a manhã, a manhã como um anjo em armadura dourada, descendo pelos picos ...
Pareceu-lhe que, diante desse esplendor, ele, e esse mundo cego no vale, e seu amor, e tudo, não eram mais do que um poço de pecado. Não virou para o lado que tinha pretendido, mas seguiu em frente, e passou pelo muro circular e saiu para as rochas, e seus olhos estavam sempre vendo o gelo e a neve iluminados pelo sol.
Viu sua beleza infinita, e sua imaginação cresceu a partir do gelo e da neve para as coisas lá longe, às quais agora iria renunciar para sempre.
Pensou naquele mundo grande e livre de onde tinha partido, o mundo que era o seu próprio mundo, e teve uma visão das encostas além dali, da distância atrás da distância, com Bogotá, lugar de beleza de multidão vibrante, glória durante o dia, mistério luminoso à noite, lugar de palácios, fontes, estátuas e casas brancas, belas a meia distância. Pensou como, em um dia ou pouco mais, poderia descer, atravessando passos, chegando cada vez mais perto de suas ruas e ruelas movimentadas. Pensou na viagem pelo rio, dia após dia, da grande Bogotá para o mundo ainda mais vasto lá fora, por entre vilas e aldeias, floresta e lugares desertos, o rio correndo dia após dia, até que suas margens se afastavam e os granndes vapores surgiam brilhantes, e tinha chegado ao mar - o mar sem limites, com suas mil ilhas, seus milhares de ilhas, e seus navios vistos vagamente ao longo em suas incessantes jornadas em torno daquele mundo maior. E lá, não limitado pelas montanhas, se via o céu - o céu não como um disco como se via aqui, mas como um arco de azul imenso, uma profundeza das profundezas em que as estrelas em rotação estavam flutuando ... Seus olhos examinaram a grande cortiina de montanhas investigando-as ansiosamente.
Por exemplo, se alguém andasse assim, subindo aquele desfiladeiro e rumo àquela canaleta lá, então alguém poderia subir alto entre aqueles pinheiros-anões que corriam em volta numa espécie de proteção e se erguiam ainda mais alto quando a proteção passava acima da garganta. E então? Aquele talude poderia ser superado. Então talvez pudesse ser achada uma via de escalada que o levasse ao alto do precipício que vinha depois da neve, e se essa canaleta falhasse, então outra mais a leste poderia servir melhor. E então? Então estaria sobre a neve iluminada cor de âmbar ali, e estaria a meio caminho rumo à crista daqueles belos lugares desolados.
Ele olhou para trás, para a aldeia, e então se virou e a observou de modo abrangente.
Pensou em Medina-saroté, e ela tinha se tornado pequena e remota. Virou-se de novo para a parede da montanha, pela qual rumo abaixo o dia claro tinha chegado para ele.
Então, muito circunspecto, começou a escalar.
Quando chegou o pôr-do-sol, ele não estava mais escalando, mas estava longe e muito alto. Tinha estado mais acima, mas ainda estava num lugar muito alto. As roupas estavam rasgadas, os membros estavam manchados de sangue, estava machucado em muitos lugares, mas ele se sentia como se estivesse à vontade e havia um sorriso em seu rosto.
De seu lugar de repouso o vale parecia como se estivesse num poço e quase a uma milha de distância. Já estava difícil de enxergar, com a névoa e a sommbra, embora os picos de montanhas em torno dele fossem objetos de luz e fogo. Os picos de montanhas em torno dele eram objetos de luz e fogo, e os pequenos detalhes das rochas próximas estavam inundados de beleza sutil - um veio de mineral verde furando o cinza, a luminosidade de cristais aqui e ali, um pequeno líquen laranja de delicada beleza bem perto de seu rosto. Havia sombras muito misteriosas na garganta, o azul se aprofundando para o púrpura, e o púrpura para uma escuridão luminosa, e lá em cima estava a ilimitada vastidão do céu. Mas ele não mais prestava atenção nessas coisas; ficou bastante quieto por ali, sorrindo como se estivesse satisfeito simplesmente por ter fugido do vale dos cegos, no qual tinha pensado ser rei. O brilho do pôr-da-sol passou, a noite chegou, e ele ainda estava quieto, deitado, em paz e contente sob as estrelas frias e claras.



segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Não precisa (Paula Fernandes) para selecionarmos os verbos


Gramática - Questões relacionadas às classes de palavras



01. Assinale a alternativa errada:

a) A jovem cujo irmão venceu a corrida, senti-se bastante feliz.
b) Os alunos, cujas notas foram baixas, foram reprovados.
c) Sempre admirei mulheres as mais belas possíveis.
d) Sempre admirei as mais belas mulheres.
e) Devemos louvar os homens os mais inteligentes.



02. Em que alternativa o termo grifado indica aproximação:

a) Ao visitar uma cidade desconhecida, vibrava.
b) Tinha, na época, uns dezoito anos.
c) Ao aproximar de uma garota bonita, seus olhos brilhavam.
d) Não havia um só homem corajoso naquela guerra.
e) Uns diziam que ela sabia tudo, outros que não.


03. (USP) Na frase “Meu livro e o de João...” o o é:

a) artigo definido
b) pronome pessoal do caso oblíquo
c) pronome demonstrativo
d) pronome relativo
e) pronome possessivo

04. (ITA) Determine o caso em que o artigo tem valor qualificativo:

a) Estes são os candidatos que lhe falei.
b) Procure-o, ele é o médico! Ninguém o supera.
c) Certeza e exatidão, estas qualidades não as tenho.
d) Os problemas que o afligem não me deixam descuidado.
e) Muito é a procura; pouca é a oferta.



05. (CEETSP) Determine o único emprego errado do pronome pessoal:

a) Com nós todos já ocorreu isso.
b) Sobre ele e eu pesam sérias acusações.
c) Ajudemo-la que ela não se sente bem.
d) Tua a feres, mas não o fazes impunemente.
e) Põe-nos aqui, foi daqui que tiraste os livros.



06. (Uberlândia) Em uma destas frases, o artigo definido está empregado erradamente. Em qual?

a) A velha Roma está sendo modernizada.
b) A “Paraíba” é uma bela fragata.
c) Não reconheço agora a Lisboa de meu tempo.
d) O gato escaldado tem medo de água fria.
e) O Havre é um porto de muito movimento.



07. Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas da frase:
Disse a ________ que sem ________ ela não sabe viver.

a) mim – ti
b) ti – eu
c) eu – ti
d) mim – tu
e) tu – mim


08. (MACK) Em “A maneira como responde é estranha”, a palavra grifada é :

a) advérbio
b) pronome relativo
c) pronome indefinido
d) conjunção subordinada causal
e) conjunção subordinada comparativa.



09. Assinale a alternativa em que os topônimos não admitem artigo:

a) Portugal, Copacabana.
b) Petrópolis, Espanha.
c) Viena, Rio de Janeiro.
d) Madri, Itália.
e) Alemanha, Curitiba.


10. Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas da frase inicial:
Enviou de presente um livro para ________ e um disco para ________.
a) eu – tu
b) eu – ti
c) ti – eu
d) mim – ti
e) eu – você

11. Neste período: "Talvez os diretores antevejam uma solução para o caso", indique o modo e o tempo do verbo.

a) subjuntivo - presente
b) indicativo - pretérito perfeito
c) subjuntivo - futuro
d) nenhuma das anteriores



12. Indique a alternativa que contenha o verbo "querer" conjugado na primeira pessoal do singular do futuro do presente (indicativo).

a) Amanhã eu queria ver os cadernos.
b) Amanhã eu quero ver os cadernos.
c) Amanhã eu queira ver os cadernos.
d) Amanhã eu quererei ver os cadernos.


13. "Nem sempre nós ................... (ir - pretérito imperfeito do indicativo) lá com vontade."Indique a conjugação correta.

a) iríamos
b) íamos
c) fôramos
d) vamos




14. Marque a opção em que há erro na identificação da classe da palavra destacada.
a) Júlia é uma executiva SEM parâmetros. - Preposição
b) Ricardo odeia que lhe digam O que é certo. - Artigo
c) Em tempos de mudança de ERA, é preciso estar atento. - Substantivo
d) Os homens assistem PERPLEXOS à revolução hormonal. - Adjetivo


15. Indique a alternativa absolutamente correta. Lembre-se de que estamos tratando agora dos verbos abundantes.

a) O funcionário não deveria ter aceitado a incumbência.
b) O funcionário não deveria ter aceito a incumbência.
c) As duas alternativas anteriores estão corretas.
d) Nenhuma das alternativas está correta.


16. Indique a grafia e leitura corretas do seguinte numeral cardinal: 3.726.

a) Três mil, setecentos e vinte e seis.
b) Três mil, e setecentos e vinte e seis.
c) Três mil e setecentos e vinte e seis.
d) Três mil, setecentos, vinte, seis.

17. Qual das palavras destacadas a seguir não é um adjetivo?

a) As pesquisas eliminaram PARTE da emoção.
b) Os BONS candidatos nem sempre são eleitos.
c) Nas eleições há feriado NACIONAL.
d) As GRANDES empresas patrocinam candidatos.
e) Os resultados são dados no dia SEGUINTE.



18. A frase em que os vocábulos sublinhados pertencem à mesma classe gramatical, exercem a mesma função sintática e têm significado diferente é:

a) Curta o curta: aproveite o feriado para assistir ao festival de curta-metragem.
b) O novo novo: será que tudo já foi feito antes?
c) O carro popular a 12.000 reais está longe de ser popular.
d) É trágico verificar que, na televisão brasileira, só o trágico é que faz sucesso.
e) O Brasil será um grande parceiro e não apenas um parceiro grande.

19. (FUVEST) Assinale a alternativa em que está correta a forma plural:

a) júnior – júniors
b) mal – maus
c) fuzil – fuzíveis
d) gavião – gaviães
e) atlas – atlas



20. Em que alternativa aparecem dois substantivos do gênero masculino?
a) cal, dinamite
b) lança-perfume, champanha
c) alface, telefonema
d) gengibre, omoplata
e) formicida, sentinela












domingo, 31 de julho de 2011

Redação: Tema- TRABALHO

Os três textos abaixo apresentam diferentes visões de trabalho. O primeiro procura conceituar essa atividade e prever seu futuro. O segundo trata de suas condições no mundo contemporâneo e o último, ilustrado pela famosa escultura de Michelangelo, refere-se ao trabalho de artista. Relacione esses três textos e com base nas ideias neles contidas, além de outras que julgue relevantes, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, argumentando sobre o que leu acima e também sobre os outros pontos que você tenha considerado pertinentes.

TEXTO 1
O trabalho não é uma essência atemporal do homem. Ele é uma invenção histórica e, como tal, pode ser transformado e mesmo desaparecer.
(Adaptado de A.Simões)

TEXTO 2
Há algumas décadas, pensava-se que o progresso técnico e o aumento da capacidade de produção permitiriam que o trabalho ficasse razoavelmente fora de moda e a humanidade tivesse mais tempo para si mesma. Na verdade, o que se passa hoje é que uma parte da humanidade está se matando de tanto trabalhar, enquanto a outra parte está morrendo por falta de emprego.
(M. A. Marques)

TEXTO 3
O trabalho de arte é um processo. Resulta de uma vida. Em 1501, Michelangelo retorna de viagem a Florença e concentra seu trabalho artístico em um grande bloco de mármore abandonado. Quatro anos mais tarde fica pronta a escultura "David".
(Adaptado de site da Internet)



Seu texto deverá conter de 25 a 30 linhas.
Serão observados os seguintes aspectos:
DISSERTAÇÃO Pontuação
Adequação ao tema (2,0)
Conteúdo (2,0)
Coerência (concordância) (1,5)
Coesão (1,5)
Gramaticidade - ortografia, pontuação, (1,0)
Apresentação estética (1,0)
Linguagem (1,0)

sábado, 30 de julho de 2011

INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - O QUINZE (Rachel de Queiroz)

O QUINZE
Mas foi em vão que Chico Bento contou ao homem das passagens a sua necessidade de se transportar a Fortaleza com a família. Só ele, a mulher, a cunhada e cinco filhos pequenos.
O homem não atendia.
- Não é possível. Só se você esperar um mês. Todas as passagens que eu tenho ordem de dar, já estão cedidas. Por que não vai por terra?
- Mas, meu senhor, veja que ir por terra com esse magote de meninos é uma morte!
O homem sacudiu os ombros:
- Que morte! Agora é que retirante tem esses luxos . . . No 77 não teve trem para nenhum. É você dar um jeito, que, passagens, não pode ser. . .
Chico Bento foi saindo.
Na porta, o homem ainda o consolou:
- Pois se quiser esperar, talvez se arranje mais tarde. Imagine que tive de ceder cinqüenta passagens ao Matias Paroara, que anda agenciando rapazes solteiros para o Acre!
Na loja do Zacarias, enquanto matava o bicho, o vaqueiro desabafou a raiva:
- Desgraçado! Quando acaba, andam espalhando que o governo ajuda os pobres. .. Não ajuda nem a morrer!
O Zacarias segredou:
- Ajudar, o governo ajuda. O preposto é que é um ratuíno. . .Anda vendendo as passagens a quem der mais . . .
Os olhos do vaqueiro luziram:
- Por isso é que ele me disse que tinha cedido cinquenta passagens ao Matias Paroara! . . .
- Boca de ceder! Cedeu, mas foi mão pra lá, mão pra cá . . O Paroara me disse que pouco faltou pro custo da tarifa . . .Quase não deu interesse . . .
Chico Bento cuspiu com a ardência do mata-bicho:
- Cambada ladrona!
(Do romance homônimo de Rachel de Queiroz)

1 ) Os olhos de Chico Bento luziram de
a) revolta. d) dor.
b) compreensão. e) satisfação.
c) ironia.

2 ) ". . . o governo ( . . . ) não ajuda nem a morrer!" Este desabafo revela-nos
a) religiosidade. d) comparação.
b) ironia. e) esperança.
c) conformismo.

3) A passagem que melhor caracteriza uma atitude irônica, embora amarga e necessitada, é:

a ) "Só se você esperar um mês."
b) "Mas foi em vão . . . "
c) "Só ele, a mulher, a cunhada e cinco filhos pequenos."
d) ". . . ir por terra com esse magote de meninos é uma morte!"
e) "Por isso é que ele me disse que tinha cedido cinqüenta passagens..."


4) Este texto foi tirado do romance de Rachel de Queiroz O Quinze. No trecho há referência a um número: O 77. Estes números indicam

a) os trens encarregados de transportar retirantes.
b) o tempo em meses que durou cada uma das grandes secas nordestinas.
c) os anos em que houve as grandes secas do Nordeste.
d) o total diário de mortes durante as secas.
e) o total de cidades nordestinas assoladas pelas secas.



5) A primeira reação de Chico Bento, após a negativa ao seu pedido, foi:

a) procurar alguém influente para conseguir-lhe as passagens.
b) desabafar sua raiva num comentário contra o homem das passagens.
c) abafar a sua raiva na cachaça.
d) revoltar-se contra o governo.
e) conformar-se com seu destino.

6) O funcionário encarregado de vender as passagens era

a) um inocente útil.
b) um bode expiatório.
c) maria-vai-com-as-outras.
d) pobre-diabo, infeliz como Chico Bento.
e) aproveitador da desgraça alheia.


7) Matias recebeu o apelido de Paroara porque

a) tinha o monopólio das passagens de trem.
b) era considerado um ratuíno por todos que o conheciam bem.
c) contratava rapazes para o trabalho nos seringais.
d) tinha a sagacidade e a tenacidade comuns aos paus-de-arara.
e) nascera no Pará.


8 ) A expressão usada por Chico Bento - "com esse magote de meninos" - revela

a) a pobreza de seus filhos.
b) a desolação que a seca provocara no vaqueiro.
c) a influência do vocabulário profissional no linguajar quotidiano.
d) o penoso e lastimável estado doentio em que se encontravam os garotos.
e) a hipocrisia do funcionário das passagens.


9) A expressão "mão pra lá e mão pra cá" tem sentido

a) agrícola.
b) comercial.
c) humorístico.
d) náutico.
e) romântico.


10) Assinale, segundo o texto, a afirmativa correta.
a) O Matias Paroara fez um grande negócio com as passagens.
b) O governo vendia as passagens por preço reduzido aos retirantes.
c) Chico Bento estava na capital do Ceará solicitando passagens.
d) O número de pessoas que dependiam do vaqueiro impedia a sua locomoção por terra.
e) O governo, através de passagens gratuitas, procurava incrementar o envio de braços para os seringais paraenses.

11. Em relação ao primeiro período do texto "Mas foi em vão que Chico Bento contou ao homem das passagens a sua necessidade de se transportar a Fortaleza com a família.", assinale alternativa correta.
1. Há 3 orações.
2. O sujeito da 2ª oração é "Chico Bento".
3. O pronome "sua" se refere a "família".
4. A oração iniciada em "que Chico Bento contou ao homem..." deve ser classificada como or. subord. substantiva predicativa.
5. "com a família" é o objeto indireto do verbo "transportar".

a. V - V - F - F - V
b. F - F - F - V - F
c. V - V - F - F - F
d. F - V - F - F - F
e. F - F - F - F - F


12. Ainda em relação ao 1º período do texto.
1. "Mas foi à-toa Chico Bento ter contado ao bilheteiro que era necessário transferir os familiares para Fortaleza", apesar de nova redação, o texto original não sofreu alteração .
2. Em "... contou ao homem das passagens a sua necessidade..." o emprego do acento grave no "a" é facultativo, haja vista ocorrer antes de pronome possessivo.
3. Os vocábulos "família" e "só" foram acentuados corretamente porque toda paroxítona terminada em ditongo e toda monossílaba tônica devem ser acentuadas graficamente.
4. No 1º período do texto, aparece três vezes o monossílabo "a", respectivamente, preposição, artigo e artigo.
5. Em "...contou ao homem das passagens" temos combinação e contração de preposições com artigos.

a. V - V - V - V - F
b. F - F - F - F - V
c. F - V - F - F - F
d. V - V - V - F - F
e. F - F - F - V - V


13. Julgue as alternativas abaixo e escolha a alternativa que reúna as respostas corretas.
1. O segmento "Por que não vai por terra?" poderia ser modificado, sem alteração semântica e sem incorreção, para "Você não vai por terra, por quê?"
2. Se não soubéssemos que O Quinze é o célebre romance de Raquel de Queiroz, que enfoca a terrível seca de 1915 e a miséria do sertão, o texto poderia sugerir que Chico Bento pleiteava para si e para a família passagens aéreas.
3. No trecho “- Que morte! Agora é que retirante tem esses luxos ..." , pode-se afirmar que o verbo ter foi empregado corretamente no campo semântico, mas cometeu-se erro de concordância.
4. No trecho " É você dar um jeito, que, passagens, não pode ser..." a palavra "que" poderia ser substituída, sem mudança de significado, por porque.
5. Em " No 77 não teve trem para nenhum.", o verbo ter foi empregado em desacordo com a norma culta da língua.

a. V - V - V - V - F
b. F - F - F - F - V
c. F - V - F - V - F
d. V - V - V - F - F
e. V - F - F - V - V


14. Julgue as alternativas abaixo e escolha a alternativa que reúna as respostas corretas.
1. No trecho "- Pois se quiser esperar, talvez se arranje mais tarde.", a palavra "se" deve ser classificada, respectivamente, como conjunção subordinativa condicional e como partícula apassivadora.
2. Observe que os vocábulos "talvez" e "quiser" foram grafados, respectivamente com Z e S; verifique, agora, se todos os vocábulos a seguir foram grafados corretamente: pequinez, altivez, indez, quisesse, graniso, aviso, hemoptise.
3. "O preposto é que é um ratuíno..." poderia ser substituído por "O representante é um ordinário".
4. No período "O preposto é que é um ratuíno..." há duas orações.
5. O acento agudo em ratuíno deve-se à regra de acentuação dos hiatos, observe se houve acentuação correta, pela mesma regra, nos vocábulos: genuíno, friíssimo e sanguíneo.

a. V - V - V - V - F
b. F - F - F - F - V
c. F - V - F - V - F
d. V - F - V - F - F
e. V - F - F - V -V


15. Observe a construção "Chico Bento cuspiu com a ardência do mata-bicho."
1. O verbo "cuspir" está flexionado na 3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo, o presente do indicativo é: cuspo, gospes, gospe, cuspimos, cuspis, gospem.
2. "mata-bicho" é um substantivo composto, significa cachaça ou aguardente; no plural, fica "mata-bichos".
3. A função sintática de "mata-bicho" é complemento nominal.
4. "cuspir" nesse período é verbo intransitivo.
5. "com", preposição, não exerce função sintática, é apenas um conectivo, que liga o termo regente (o verbo cuspir) a um termo subordinado (o substantivo ardência).

a. V - V - V - V - F
b. F - F - F - F - V
c. F - V - F - V - V
d. V - F - V - F - F
e. V - F - F - V - V

domingo, 24 de julho de 2011

Redação - Tema: Imprensa X Liberdade de Expressão - Profe Mari (14 de julho 2011 - SLO)

LIBERDADE DE EXPRESSÃO E (DES)APRISIONAMENTO
Professora Msc. Marinês Z. Brun

Vivemos o privilégio da liberdade de expressão. Sim, privilégio, pois não vai longe o tempo em que manifestar opiniões, questionar, contestar eram motivos suficientes para, inclusive, pagar com a própria vida a ousadia de afrontar a quem autodenominava-se detentor do poder de salvaguardar as ideias  propícias, adequadas e oportunas.
A era tecnológica nos oportunizou o apequenamento do planeta, o encurtamento de distâncias e o olhar para o mundo no conforto de nossos lares a um simples toque digital. Adentramos a era da liberdade e da liberalidade, das múltiplas possibilidades de nos expôr. Mas, até que ponto tal acessibilidade é positiva? Ou negativa?
Ainda não sabemos. Porém, o livre arbítrio pode estar fragilizado, ou, até, condenado. Pensamos com o coletivo, agimos, muitas vezes, sem clareza dos próprios e exatos pensamentos, sentimentos e valores. Guiados por expressões de outrens que circulam na grande rede.
Faz-se necessário desacelerar o frenesi voluptuoso da modernidade, engrandecer o mundo para nos aproximarmos do nosso mundo – o individual, o particular, o familiar. Atribuir-lhe o devido valor para, com toda a liberdade e curiosidade, redescobrir a própria essência e compreender a verdadeira face de ser o que é: HUMANO!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

AMOR É FOGO QUE ARDE - CAMÕES

PRODUÇÃO TEXTUAL – Tema: Imprensa x Liberdade de Expressão

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PRODUÇÃO TEXTUAL – PROFESSORA MSc. MARINÊS – 2011
Tema: Imprensa x Liberdade de Expressão
Relacione os textos abaixo e redija uma dissertação, em prosa, discutindo as ideias neles contidas e apresentando argumentos que comprovem e/ou refutem o papel da imprensa relacionado à liberdade de expressão em pleno limiar do séc. XXI.
Texto 1
"Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande
Hoje o mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena parabolicamará"
(Gilberto Gil) 
Texto 2                             
"Como democratizar a TV, o rádio, a imprensa, que são o oxigênio e a fumaça que a nossa imaginação respira? Como seria uma TV sem manipulação? São perguntas difíceis, mas a luta social efetiva, e sobretudo um projeto de futuro, são impossíveis sem entrar nesse terreno."
(Roberto Schwarz)
Texto 3
"Tevê colorida
fará azul-rósea
a cor da vida?"
(Carlos Drummond de Andrade)                    

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Quinhentismo - Barroco - Arcadismo --- ATIVIDADES

01. (UNISA) A “literatura jesuíta”, nos primórdios de nossa história:
a) visa à catequese do índio, à instrução do colono e sua assistência religiosa e moral
b) tem grande valor informativo
c) está a serviço do poder real
d) tem fortes doses nacionalistas
02. A literatura de informação corresponde às obras:

a) arcádicas
b) de jesuítas, cronistas e viajantes
c) barrocas
d) do Período Colonial em geral
03. A importância das obras realizadas pelos cronistas portugueses do século XVI e XVII é:
a) caracterizar a influência dos autores renascentistas europeus
b) sobretudo documental
c) a deterem sido escritas no Brasil e para brasileiros
d) determinada exclusivamente pelo seu caráter literário
e) n.d.a.
04. Qual a alternativa que apresenta uma associação errada?

a) Arcadismo / Iluminismo
b) Arcadismo / Racionalismo
c) Arcadismo / Anti-Classicismo
d) Barroco / Contra-Reforma
e) Romantismo / Revolução Industrial

05. Identifique a alternativa que não contenha ideais clássicos de arte:
a) Liberdade de criação e predomínio dos impulsos pessoais
b) Formalismo e perfeccionismo
c) Universalismo e racionalismo
d) Valorização do homem (do aventureiro, do soldado, do sábio e do amante) e verossimilhança (imitação da verdade e da natureza)
e) Obediência às regras e modelos e contenção do lirismo
06. (MACKENZIE-SP) Assinale a alternativa incorreta:
a) A literatura seiscentista reflete um dualismo:o ser humano dividido entre a matéria e o espírito, o pecado e o perdão
b) O Barroco apresenta estados de alma expressos através de antíteses, paradoxos, interrogações
c) O conceptismo caracteriza-se pela linguagem rebuscada, culta, extravagante, enquanto o cultismo é marcado pelo jogo de idéias, seguindo um raciocínio lógico, racionalista
d) A literatura informativa do Quinhentismo brasileiro empenha-se em fazer um levantamento da terra, daí ser predominantemente descritiva
e) Na obra de José de Anchieta, encontram-se poesias que seguem a tradição medieval e textos para teatro com clara intenção catequista
07. Com referência ao Barroco, todas as alternativas são corretas, exceto:
a) O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo em mira seu aprimoramento, com base na cultura greco-latina
b) O Barroco apresenta, como característica marcante, o espírito de tensão, conflito entre tendências opostas: de um lado, o teocentrismo medieval e, de outro, o antropocentrismo renascentista
c) O Barroco estabelece contradições entre espírito e carne, alma e corpo, morte e vida
d) A arte barroca é vinculada à Contra-Reforma
e) O barroco caracteriza-se pela sintaxe obscura, uso de hipérbole e de metáforas
08. Assinale o que não se refere ao Arcadismo:
a) Volta aos princípios clássicos greco-romanos e renascentistas (o belo, o bem, a verdade, a perfeição, a imitação da natureza)
b) Época do Iluminismo (século XVIII) – Racionalismo, clareza, simplicidade
c) Apóia-se em temas clássicos e tem como lema: inutilia truncat (“corta o que é inútil”)
d) Ornamentação estilística, predomínio da ordem inversa, excesso de figuras
e) Pastoralismo, bucolismo suaves idílios
09. Indique a alternativa errada:
a) O cultismo correspondeu sobretudo a um jogo formal refinado, com uso abundante de figuras de linguagem e verdadeiras exaltação sensorial na composição das imagens e na elaboração sonora
b) O Arcadismo tendeu à obscuridade, à complicação lingüística e ao ilogismo
c) O arcadismo afirmou-se em oposição ao estilo barroco
d) Cultismo e conceptismo são as duas vertentes literárias do estilo barroco
e) O conceptismo correspondeu a um estilo fundado em “agudezas”ou “sutilezas”de pensamento, com transições bruscas e associações inesperadas entre conceitos
10. Leia o texto
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar do tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras
Pastando solenes no meu jardim...”


Confirmando o aspecto cíclico das tendências literárias, vários temas reaparecem nas músicas contemporâneas. O texto acima, embora moderno, apresenta característica do

A) Romantismo
B) Realismo
C) Modernismo
D) Arcadismo
E) Barroco


11. "Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá
As aves, que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá."

Esse poema é de qual movimento literário?

F) Arcadismo
G) Romantismo
H) Simbolismo
I) Parnasianismo
J) Naturalism

12. Castro Alves, uma das figuras que melhor interpretou e expressou o lirismo do povo brasileiro, defendeu através de suas poesias, principalmente:
A) as excelências da vida campestre em contraposição com a vida urbana;
B) a necessidade econômica do trabalho escravo;
C) o direito de liberdade para o negro;
D) a independência do Brasil;

E) a necessidade de domar a inspiração.

Texto para as questões 13 e 14.

SONETO


Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada...
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

(Álvares de Azevedo, Lira dos Vinte Anos)

13. Pela leitura do poema, é possível afirmar que ele expressa
a) o assombro do poeta diante da beleza da lua cheia, como que dormindo entre nuvens e refletindo seus raios sobre as águas do mar.
b) a excitação sexual de um amante ao surpreender sua amada deitada, nua, sobre as areias de uma praia à noite, iluminada à luz sombria da lua.
c) o êxtase de quem, contemplando em sonhos a luz, as flores, as nuvens e outros elementos da natureza, vê neles os sinais da divindade.
d) a irreverência de alguém que, diante da exaltação do seu amor, não se importa com o desprezo nem da sociedade nem de sua própria amada.
e) a admiração de um apaixonado diante da beleza de sua amada, que, contemplada dormindo entre os lençóis da cama, em seguida, desperta.

14. A alternativa que melhor exprime as características da poesia de Álvares de Azevedo, encontradas no poema transcrito, é a que destaca a presença de
a) antíteses construídas sobre extremos, tais como "reclinada" X "embalsamada" e "virgem do mar" X "anjo entre nuvens d'alvorada".
b) uma atmosfera de sonhos que evita a nitidez da descrição, como em "Entre as nuvens do amor ela dormia" e "Pela maré das águas embalada".
c) inversões violentas da sintaxe corrente, como em "Não te rias de mim, meu anjo lindo!" e "Era um anjo entre nuvens d'alvorada...".
d) comparações que prenunciam a morte, como em "Pálida, à luz da lâmpada sombria" e "Sobre o leito de flores reclinada".
e) uma fuga pueril e adolescente à objetividade quotidiana, como em "Não te rias de mim, meu anjo lindo!" e "O seio palpitando...".

Interpretação - Literatura - Gramática

"Arrumar o homem"
( Dom Lucas Moreira Neves Jornal do Brasil, Jan. 1997)
Não boto a mão no fogo pela autenticidade da estória que estou para contar. Não posso, porém, duvidar da veracidade da pessoa de quem a escutei e, por isso, tenho-a como verdadeira. Salva-me, de qualquer modo, o provérbio italiano: "Se não é verdadeira... é muito graciosa!"
Estava, pois, aquele pai carioca, engenheiro de profissão, posto em sossego, admitido que, para um engenheiro, é sossego andar mergulhado em cálculos de estrutura. Ao lado, o filho, de 7 ou 8 anos, não cessava de atormentá-lo com perguntas de todo jaez, tentando conquistar um companheiro de lazer.
A idéia mais luminosa que ocorreu ao pai, depois de dez a quinze convites a ficar quieto e a deixá-lo trabalhar, foi a de pôr nas mãos do moleque um belo quebra-cabeça trazido da última viagem à Europa. "Vá brincando enquanto eu termino esta conta". sentencia entre dentes, prelibando pelo menos uma hora, hora e meia de trégua. O peralta não levará menos do que isso para armar o mapa do mundo com os cinco continentes, arquipélagos, mares e oceanos, comemora o pai-engenheiro.
Quem foi que disse hora e meia? Dez minutos depois, dez minutos cravados, e o menino já o puxava triunfante: "Pai, vem ver!" No chão, completinho, sem defeito, o mapa do mundo.
Como fez, como não fez? Em menos de uma hora era impossível. O próprio herói deu a chave da proeza: "Pai, você não percebeu que, atrás do mundo, o quebra-cabeça tinha um homem? Era mais fácil. E quando eu arrumei o homem, o mundo ficou arrumado!"
"Mas esse garoto é um sábio!", sobressaltei, ouvindo a palavra final. Nunca ouvi verdade tão cristalina: "Basta arrumar o homem (tão desarrumado quase sempre) e o mundo fica arrumado!"
Arrumar o homem é a tarefa das tarefas, se é que se quer arrumar o mundo.
01. O título dado ao texto:
(A) representa a tarefa que deveria ser executada pelo menino;
(B) indica a verdadeira finalidade do jogo de quebra- cabeça;
(C) mostra a desorganização reinante na família moderna;
(D) assinala a tarefa básica inicial para a organização do mundo;
(E) demonstra a sabedoria precoce do menino da estória narrada.
02. A frase do menino: E quando eu arrumei o homem, o mundo ficou arrumado! mostra que:
(A) o pai do menino desconhecia a brilhante inteligência do filho;
(B) o menino tinha uma visão crítica do mundo bastante apurada;
(C) o menino já havia feito a mesma tarefa antes;
(D) o autor do texto quer mostrar a sabedoria do menino;
(E) o menino descobrira um meio mais fácil de completar a tarefa.
LEIA O TEXTO ABAIXO PARA RESPONDER A QUESTÃO PROPOSTA:
MAIS UMA VEZ
(Renato Russo e Flávio Venturini)

Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem
Tem gente que está
Do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja a nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém
Em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança
Nunca deixem que lhe digam
Que vale a pena acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém.



03. O melhor verso que evidencia a função de linguagem apelativa é:
a) “Se você quiser alguém em quem confiar / confie em si mesmo.”
b) “ Tem gente que machuca os outros”
c) “ Mais uma vez , eu sei”
d) “Mas deveria estar do lado de lá”
e) “Acreditar no sonho que se tem.”

04. Leia o seguinte o seguinte texto de Ubirajara Inácio de Araújo:
“Todo texto é uma sequência de informações do início até o fim, há um percurso acumulativo delas. Às informações já conhecidas, outras novas vão sendo acrescidas a estas, depois de conhecidas, terão a si outras novas acrescidas e, assim, sucessivamente. A construção do texto flui como um ir e vir de informações, uma troca constante entre o dado e o novo.”
É correto afirmar que, nesse texto, predominam:
a) Função referencial e gênero do tipo dissertativo.
b) Função fática e gênero do tipo didático.
c) Função poética e gênero do tipo narrativo.
d) Função expressiva e gênero de conteúdo dramático.
e) Função conativa e gênero de conteúdo lírico

05. O início de da nossa formação literária se encontra no século XVI, com o Quinhentismo. Dela fazem parte:
a) As obras produzidas pelos degredados que eram obrigados a se instalar no Brasil.
b) Os escritos que os donatários das capitanias hereditárias faziam ao rei de Portugal.
c) Os relatos dos cronistas viajantes e missionários europeus sobre a natureza e o homem brasileiros;
d) As produções arcádicas.
e) As poesias de Gregório de Matos.

06. Considere os fragmentos abaixo, respectivamente, da canção Amor Maior, da banda Jota Quest, e do Soneto do Maior Amor, de Vinícius de Moraes.


AMOR MAIOR
Eu quero ficar só
Mas comigo só
Eu não consigo
[...]

É preciso amar direito
Um amor de qualquer jeito
Ser amor a qualquer hora
Ser amor de corpo inteiro
Amor de dentro pra fora
Amor que eu desconheço

Quero um amor maior...
Um amor maior que eu
[...]



SONETO DO AMOR MAIOR
Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

Sobre os fragmentos acima, são feitas as seguintes afirmações.
I - Os dois poetas exaltam um sentimento amoroso intenso, mas não correspondido pela amada.
II - Tanto a canção do grupo Jota Quest quanto os versos do soneto de Vinícius apresentam uma rigidez formal típica da poesia contemporânea.
III - Os versos de Vinícius manifestam sentimentos contraditórios em relação à amada, enquanto os cantados pela banda evidenciam um desejo de um amor completo, totalizante.

Quais estão corretas?
(A) Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas III. (D) Apenas II e III. (E) I, II e III.

Texto para a questão 07
"Navegar é preciso, viver não é preciso". Esta frase de antigos navegadores portugueses, retomada por Fernando Pessoa, por Caetano Veloso sabe-se lá por quantos mais citadores ou reinventores, ganha sua última versão no âmbito da informática, em que o termo navegar adquire outro e preciso sentido.
Na nova acepção, em tempos de internet, o lema parece mais afirmativo do que nunca. Os olhos que hoje vagueiam pela tela iluminada do monitor já não precisam nem de velas, nem de versos, nem de fados: da vida só querem o cantinho de um quarto, de onde fazem o mundo flutuar em mares de virtualidade nunca dantes navegados.
Considere as seguintes afirmações:
I. A significação das palavras constitiu um processo dinâmico e supõe o reconhecimento histórico de seu emprego.
II. As expressões "velas”, "fados"e "nunca dantes navegados" ligam-se ao contexto primitivo do velho lema.
III. Desligando-se de suas raízes históricas, as palavras apresentam-se esvaziadas de qualquer sentido.
07. Conforme se pode deduzir do texto, está correto o que se afirma
A) apenas em I e II.
B) apenas em I e III.
C) apenas em II e III.
D) apenas em I .
E) em I, II e III.
Texto 1
Em 2009 deve entrar em vigor o acordo ortográfico cujo objetivo é unificar a escrita do
português nos países que o adotam como sua língua oficial.
Observe posições a respeito disso, publicadas em Veja, de 12 set. 2007.

1 - Encaro com grande ceticismo esse acordo ortográfico. É uma reforma tímida, que não traz grandes inovações. Mas não gostei. Queria que meus tremas ficassem onde estão. Os escritores mais velhos e mais preguiçosos têm de confiar no pessoal da editoração para fazer as mudanças necessárias no texto. (João Ubaldo Ribeiro, p. 93)
2 - A unificação já devia ter ocorrido antes. É uma medida civilizada. A diferença na escrita dos países que falam português atrapalha o intercâmbio econômico e editorial. Como toda reforma, essa proposta tem suas falhas. Mas acho ótimo, por exemplo, o fim do trema. Sou a favor de tudo que vai no sentido da simplificação. (Lya Luft, p. 96)
3 - As diferenças culturais não se resolvem assim apenas com um golpe de pena. [...] a grafia cheia de letras mudas tecto, facto, acto não impediu o português José Saramago de serbest-seller no Brasil. Como a natureza, a arte e a inteligência sempre encontram uma maneira de se manifestar. Com a ajuda de uma norma culta e amplamente aceita, esse trabalho fica mais fácil. (Veja, p. 96)
Em relação ao texto 1, responda às questões 1, 2 e 3.

08. Analise as afirmações abaixo, em relação aos itens 1 e 2.
I - Os escritores João Ubaldo Ribeiro e Lya Luft apresentam opiniões conflitantes, em relação à unificação da escrita do português.
II - Para Lya, a eliminação do trema significa simplificação da língua.
III- Segundo Lya, a unificação ortográfica deveria ter ocorrido antes, por ser forma civilizada de comunicação entre os povos.
IV- Para João Ubaldo, todos os escritores mais velhos são mais preguiçosos.

Assinale a alternativa cujas afirmações se justificam pelo correto entendimento do texto.
a) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras.

09. A leitura do item três permite depreender que:
a) É a norma culta, aceita amplamente, que determina as diferenças culturais existentes entre Brasil e Portugal.
b) Golpes não resolvem diferenças culturais e ortográficas.
c) A natureza, a arte e a inteligência tornam-se mais fáceis se a norma culta da língua for amplamente aceita.
d) A grafia de letras mudas, presente nos livros do português Saramago, é aceita no Brasil, sem restrições.
e) As diferenças ortográficas entre o português do Brasil e o de Portugal não impediram que os livros de José Saramago fizessem sucesso em nosso país.

10. Assinale a alternativa incorreta, em relação aos três itens.
a) Em Encaro com grande ceticismo esse acordo ortográfico. (1) a palavra sublinhada significa descrença.
b) Em As diferenças culturais não se resolvem assim apenas com um golpe de pena. (3) a expressão sublinhada pode equivaler a impensadamente.
c) As conjunções coordenadas adversativas implicam idéia de oposição.Considerando-se a oração (ou orações) antecedente(s), essa oposição não ocorre em Mas não gostei. (1), porém ocorre em Mas acho ótimo (2).
d) Em para fazer as mudanças necessárias no texto (1) há idéia de finalidade.
e) Em maneira de se manifestar (3) poderia ocorrer ênclise em relação à forma verbal no infinitivo: de manifestar-se .
11. “Naquela terrível luta, muitos adormeceram para sempre”, há:


a) pleonasmo
b) eufemismo
c)anaculto
d) polissíndeto
e) assíndeto


12. Na frase: “Todos somos os fios do tecido”, há exemplo de:

a) metonímia
b) metáfora
c) pleonasmo
d) eufemismo
e) hipérbole


13. Marque a opção em que há metáfora:
a) Minha vida é uma colcha de retalhos, todas da mesma cor.
b) Trata-se de uma pessoa que falta sempre com a verdade.
c) Cada qual procura cuidar de si mesmo.
d) Caminhar para a morte, pensando em vencer na vida.
e) Olhe, meu filho, os homens são como formigas.

14. O Humanismo surgiu na .... e seu foco de atenção era o ser humano, por isso, adotou uma visão de mundo ....

a) América - Antropocêntrica
b) Europa – Teocêntrica
c) Ásia – Politeísta
d) América – Teocêntrica
e) Europa – Antropocêntrica


15. A obra de Fernão Lopes tem um caráter:
a) Histórico-literário, aproximando-se do moderno romance histórico, pela fusão do real com o imaginário
b) Basicamente histórico, pela fidelidade à documentação e pela objetividade da linguagem científica
c) Histórico-literário, pela seriedade da pesquisa histórica, pelas qualidades do estilo e pelo tratamento literário, que reveste a narrativa histórica de um tom épico e compõe cenas de grande realismo plástico, além do domínio da técnica dramática de composição
d) Essencialmente estético pelo predomínio do elemento ficcional
16. Marque a alternativa que preenche corretamente os espaços na seguinte frase: O marco inicial do Trovadorismo é ..., escrita por ....

a) Auto da Barca do Inferno – Gil Vicente
b) Farsa de Santa Inês – Paio Soares de Taveirós
c) Cantiga da Ribeirinha - Paio Soares de Taveirós
d) Cantiga da Ribeirinha – Fernão Lopes
e) Cancioneiro Geral – Gil Vicente

17. Assinale a alternativa incorreta:
a) A literatura seiscentista reflete um dualismo:o ser humano dividido entre a matéria e o espírito, o pecado e o perdão
b) O Barroco apresenta estados de alma expressos através de antíteses, paradoxos, interrogações
C) O conceptismo caracteriza-se pela linguagem rebuscada, culta, extravagante, enquanto o cultismo é marcado pelo jogo de idéias, seguindo um raciocínio lógico, racionalista
d) A literatura informativa do Quinhentismo brasileiro empenha-se em fazer um levantamento da terra, daí ser predominantemente descritiva
e) Na obra de José de Anchieta, encontram-se poesias que seguem a tradição medieval e textos para teatro com clara intenção catequista

18. Com referência ao Barroco, todas as alternativas são corretas, exceto:
a) O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo em mira seu aprimoramento, com base na cultura greco-latina
b) O Barroco apresenta, como característica marcante, o espírito de tensão, conflito entre tendências opostas: de um lado, o teocentrismo medieval e, de outro, o antropocentrismo renascentista
c) O Barroco estabelece contradições entre espírito e carne, alma e corpo, morte e vida
d) A arte barroca é vinculada à Contra-Reforma
e) O barroco caracteriza-se pela sintaxe obscura, uso de hipérbole e de metáforas
19. (ITA) Uma das afirmações abaixo é incorreta. Assinale-a:
a) A morte de Moema,índia que se deixa picar por uma serpente, como prova de fidelidade e amor ao índio Cacambo, é trecho mais conhecido da obra O Uruguai, de Basílio da Gama
b) O poema épico Caramuru, de Santa Rita Durão, tem como assunto o descobrimento da Bahia, levado a efeito por Diogo Álvares Correia, misto de missionários e colonos português
c) A produção literária do Arcadismo brasileiro constitui-se sobretudo de poesia, que pode ser lírico-amorosa, épica e satírica
d) O escritor árcade reaproveita os seres criados pela mitologia greco-romana, deuses e entidades pagãs. Mas esses mesmos deuses convivem com outros seres do mundo cristão
e) O árcade recusa o jogo de palavras e as complicadas construções da linguagem barroca, preferindo a clareza, a ordem lógica na escrita
20. Qual a alternativa que apresenta uma associação errada?

a) Arcadismo / Iluminismo
b Arcadismo / Racionalismo
c) Arcadismo / Anti-Classicismo
d) Barroco / Contra-Reforma
e) Romantismo / Revolução Industrial


21. Assinale o que não se refere ao Arcadismo:
a) Volta aos princípios clássicos greco-romanos e renascentistas (o belo, o bem, a verdade, a perfeição, a imitação da natureza)
b) Época do Iluminismo (século XVIII) – Racionalismo, clareza, simplicidade
c) Apóia-se em temas clássicos e tem como lema: inutilia truncat (“corta o que é inútil”)
d) Ornamentação estilística, predomínio da ordem inversa, excesso de figuras
e) Pastoralismo, bucolismo suaves idílios campestres
22. Nas palavras ''chamar'' e ''tóxico'' há, respectivamente
A) 6 letras e 6 fonemas / 6 letras e 7 fonemas
B) 6 letras e 5 fonemas / 6 letras e 7 fonemas
C) 6 letras e 5 fonemas / 6 letras e 6 fonemas
D) 6 letras e 6 fonemas / 6 letras e 6 fonemas

23. Assinale a alternativa em que as informações apresentadas para a palavra em destaque estejam totalmente CORRETAS.
A) hexacampeão: 10 fonemas, um tritongo, um dígrafo
B) companhia: 7 fonemas, um encontro consonantal, um dígrafo
C) português: 8 fonemas, um ditongo crescente, um encontro consonantal
D) quotista: 8 fonemas, um encontro consonantal, um ditongo crescente.

24 ...... seja promovida, ela dará uma festa, ...... ninguém ponha em dúvida seu sincero e imediato reconhecimento.
A frase acima ganha sentido lógico e completo preenchendo-se as lacunas, respectivamente, com as expressões:

A) Mesmo que - para que
B) Embora - a fim de que
C) Tão logo - mesmo que
D) Ainda que não - tão logo
E) Não obstante - a menos que


25. Dadas as palavras:
1) des-a-ten-to 2) sub-es-ti-mar 3) trans-tor-no
constatamos que a separação silábica está correta:

A) apenas em 3
B) apenas em 2
C) apenas em 1
D) em todas as palavras
E) n.d.a.


26. Assinale a alternativa em que a palavra não tem suas sílabas corretamente separadas:

A) in-te-lec-ção
B) cre-sci-men-to
C) oc-ci-pi-tal
D) ca-a-tin-ga
E) n.d.a.


27 Assinale a alternativa correta quanto ao uso de porque/porquê/por que/por quê.

A) Porquê você estava tão alegre?
B) Estava alegre por que vencera.
C) Você estava tão alegre por quê?
D) Por que amava, estava alegre.


28. Assinale a alternativa correta quanto ao emprego de homônimos/parônimos.
A) Ele parecia passar mau com a notícia.
B) Peço-lhe retificar os erros apontados.
C) Seus desfalques foram vultuosos.
D) Ao iminente cientista, nossos comprimentos.

29. Assinale a alternativa correta quanto ao emprego de ''onde'' e ''aonde''.

A) Aonde você esteve?
B) Aonde você vai?
C) Onde você foi?
D) Onde nós vamos?


30. A concordância nominal está errada em
A) As mãos e os pés parecem limpos.
B) Serão úteis as informações anexas.
C) O livro custou dez real.
D) A instrutora estava meio confusa.